Não faça cocô no kusoge desta semana
Se o fenômeno da apreciação de jogos ruins existe em todo o mundo, talvez nenhuma base de jogadores esteja tão ciente disso quanto as do Japão. Ao contrário de nós, eles têm uma palavra muito concisa para descrever jogos terríveis: kusoge. É 'kuso', que significa merda, e 'ge', como em geemu ou jogo. Jogo de merda, viu?
O porte Famicom/NES de Spelunker é talvez o mais infame, e às vezes considerado o destinatário original deste título. Por alguma razão, Spelunker vendeu bem, mas sua reputação de ser excessivamente difícil se espalhou a ponto de se tornar um fenômeno cultural no Japão. A fragilidade do personagem principal chegou a ser transformada em uma frase, "espelunker taishitsu", ou constituição do espeleólogo, que é comumente aplicada a atletas que se machucam com frequência ou facilidade. Aposto que você não percebeu que ia fazer uma aula de japonês aqui.
Spelunker foi originalmente lançado em computadores domésticos de 8 bits, mas ganhou nova vida e grande notoriedade quando foi portado para o Famicom. As diferenças entre as versões são bastante gritantes, então tenha em mente que estou falando apenas da versão Famicom/NES aqui.
A primeira coisa que você vai fazer ao iniciar um jogo de Spelunker é girar um pouco para a direita, cair do elevador e morrer. Está tudo bem, é completamente natural. A lacuna entre o elevador e a borda é tão estreita que você esperaria passar por cima dela, mas em vez disso seu pequeno explorador de cavernas encontra o caminho pela fenda, mergulha alguns metros e pisca até a morte.
Supondo que você não repita o erro, você provavelmente matará seu infeliz personagem tentando entrar no elevador dentro de uma tela. Não estou tentando questionar suas habilidades de videogame, prometo. Estou tentando mostrar o quão ridiculamente frágil é o protagonista.
Quase tudo em sua jornada o matará. Pequenos gêiseres de vapor, gotas curtas, excrementos de morcegos; é como se o constrangimento fosse veneno para ele e cada pequeno contratempo que ele encontra é a causa disso. Para ser justo, o constrangimento é uma fraqueza comum para personagens de plataforma, demonstrado pelo fato de que o contato físico geralmente é suficiente para derrubar poderosos heróis de rolagem lateral. Nosso pequeno espeleólogo é um pouco mais dramático sobre seus fracassos.
Se eu fosse do tipo paranóico, provavelmente diria que Spelunker foi feito para ferrar com você, como os níveis finais de Super Mario Bros. ou a totalidade de Super Mario Bros.: The Lost Levels. Obstáculos parecem ser colocados especificamente para você ser morto por eles. As videiras ficam tão perto do solo que convidam a simplesmente descer, mesmo que sua queda curta seja fatal. As rochas nas quais você salta são colocadas ao lado dos poços de modo que, se você cronometrar seu salto um pouco errado, você será enviado de volta para sua morte embaraçosa.
Os únicos inimigos reais no jogo são morcegos que fazem cocô e um fantasma que é facilmente expulso sacrificando um pouco do seu oxigênio. É deslizar morro acima com tarefas simples que mais o matarão, como descer um elevador ou subir uma videira. A maioria das mortes deve-se a erros simples e não a um desenho difícil. Você vai se queimar com seu próprio sinalizador ou explodir com uma bomba que você colocou. Você desce de um elevador na hora errada e cai um pouco longe demais. O pequeno espeleólogo é tão frágil quanto uma bailarina diáfana.
Existem quatro níveis para concluir, o que pode não parecer muito tempo, mas muitos jogadores não têm paciência para completar o primeiro. Pode ser difícil ser persistente quando o jogo te dá um chute no estômago a cada turno.
É possível atender às demandas irracionais do jogo. Depois de aprender as regras e como cada obstáculo reage, chegar ao final não é impossível. Chegar a este ponto é algo que nem todos terão coragem. Pessoalmente, levei muito tempo para vencer o primeiro nível, mais tempo para vencer o segundo, mas quando cheguei ao terceiro, todas as habilidades estavam prontas para derrubá-lo. Ainda hoje, geralmente consigo completar o jogo sem praticar. Acabei de aprender a falar sua linguagem chula.
Para ser honesto, enquanto Spelunker pode ser um dos kusoge mais lendários, eu tenho um fraquinho por ele – uma propensão, até. É como colocar as mãos em um capô de carro no meio do verão, o calor escaldante é bastante doloroso no início, mas uma vez que sua pele está frita e o calor suficiente se dissipou, pode ser bastante tolerável.
Spelunker é certamente um jogo difícil, mas se comporta de forma previsível e pode ser superado aprendendo seus padrões. Não é exatamente o jogo mais exigente, e chegar ao final é satisfatório. Em seguida, ele pede que você faça isso novamente, girando as teclas invisíveis. Então, depois de completar isso, você começa de novo, mas não apenas as chaves são invisíveis, você tem que pular para coletá-las. A repetição cíclica do jogo é bastante inútil, mas era exatamente assim que os jogos eram naquela época.
É fácil odiar Spelunker à primeira vista, mas ele está bem preso na mente japonesa. Ele teve uma sequência bastante estranha em 1987, que, embora chamada Spelunker II, era completamente diferente do primeiro jogo do Famicom. Houve uma sequência de arcade, também chamada Spelunker II, que estava um pouco mais ligada ao original. Mais tarde, teríamos Spelunker HD, que é tecnicamente um remake, mas também adiciona 100 novos níveis, então faça como quiser. A mecânica do Famicom também seria aplicada ao Spelunker World, relançado como Spelunker Party, que é um pouco mais amigável, mas ainda baseado na mesma pateta. É uma série inteira!
Não vou tentar vendê-lo no Spelunker, pois entendo que é um jogo difícil de gostar. Mesmo assim, eu recomendaria experimentá-lo apenas para ver sua dificuldade estranhamente desanimadora. Não há problema em mergulhar os dedos dos pés no kusoge de vez em quando e deixar pessoas quebradas como eu nadarem nele.
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